O presidente russo, Vladimir Putin, advertiu neste domingo que novos ataques contra o país provocariam o “caos” nas relações internacionais. Enquanto isso, os EUA prometeram anunciar hoje novas sanções contra a Rússia em razão do suposto uso de cloro e gás sarin por tropas do governo sírio contra grupos rebeldes em Duma, perto da capital síria, Damasco, no dia 7.
Um ataque químico que matou dezenas de civis, inclusive crianças, é apontado pela potências ocidentais como justificativa para a retaliação ao regime de Bashar al-Assad.
No fim de semana, houve manifestações nos EUA e em países como Grécia, Turquia, e Iraque contra os bombardeios na Síria. Em Bagdá, iraquianos protestaram em várias cidades. Os atos foram convocados pelo líder xiita Moqtada al-Sadr. Alguns participantes queimaram bandeiras americanas.
A multidão reunida na praça Tahrir, no centro de Bagdá, gritou:
Parem de destruir a Síria como destruíram nosso país.
Nas ruas de Damasco, capital síria, também houve manifestações de repúdio ao bombardeio. Civis e militares ergueram bandeiras do país em defesa de Al-Assad. Também havia gritos de ordem em apoio à Rússia e ao Irã, governos aliados do regime.
No sábado (noite de sexta-feira pelo horário de Brasília), EUA e os dois aliados ocidentais lançaram mísseis em ataque coordenado contra locais suspeitos de armazenar ou preparar armas químicas em território sírio. Neste domingo, o presidente americano voltou a defender a operação militar. Donald Trump escreveu no Twitter:
A incursão síria foi executada tão perfeitamente, com tanta precisão, que a única forma que os “meios de comunicação falsos” puderam criticá-la foi pelo uso do termo “Missão cumprida”.
O republicano fez a publicação em resposta às críticas recebidas por ter classificado a ofensiva com a mesma expressão usada pelo ex-presidente George W. Bush, em 2003, sobre o suposto fim da Guerra do Iraque. Naquele ano, os EUA invadiram o país então governado por Saddam Hussein sob a justificativa de procurar armas de destruição em massa que nunca foram encontradas.

Apuração do uso de tóxicos
Equipe de investigadores da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) chegou a Damasco horas depois dos bombardeios ocidentais. O órgão internacional, com sede em Haia, iniciou neste domingo a investigação sobre o suposto ataque químico em Duma. O vice-ministro sírio de Assuntos Exteriores, Faisal Mokdad, entrou no hotel Four Seasons, onde se encontra o grupo da Opaq, e deixou o prédio três horas depois.
As apurações do órgão geralmente começam por reuniões com altos funcionários do governo local, mas todas as conversas sobre o assunto acontecem a portas fechadas.
O trabalho será complicado para os investigadores que chegam mais de uma semana depois dos fatos, em área desde então controlada por tropas sírias e pela polícia militar russa. Eles terão de lidar com o risco de que as provas tenham sido eliminadas.
Ralf Trapp, consultor e membro de missão anterior da Opaq na Síria, avaliou:
Sempre há de se considerar essa possibilidade, e os investigadores buscarão provas que mostrem se o local do incidente foi alterado.
Criada em 1997, a Opaq apura violações à convenção internacional que veta produção, armazenamento e uso desse tipo de arsenal. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2013. Em 2014, indicou que a Síria havia se desfeito de suas armas químicas, mas missão com a ONU concluiu que o regime usou gás sarin em 2017 contra vilarejo em zona contrária a Assad.
Os últimos combatentes rebeldes de Duma e civis foram evacuados no sábado para áreas do norte do país, como parte de acordo de rendição assinado com o regime dois dias após o suposto ataque químico. Sujeita a cerco sufocante há cinco anos e submetida a violentos bombardeios do governo desde 18 de fevereiro, a cidade está devastada.

Pressão diplomática
Trump e o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmam ter “provas” do uso de armas químicas para justificar as incursões, mas nada de concreto foi divulgado até o momento. O bombardeio, embora não tenha feito vítimas, despertou a indignação de Rússia e Irã, aliados de Damasco.
Os russos criticaram “um ato de agressão contra um Estado soberano”, mas não conseguiram obter condenação do Conselho de Segurança da ONU – tiveram apoio apenas de China e Bolívia, oito nações votaram contra e quatro se abstiveram.
Embora outros bombardeios não sejam esperados, a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, advertiu ainda no sábado que os EUA estariam “carregados e engatilhados” em caso de novo ataque químico.
Após a ofensiva militar do fim de semana, as potências ocidentais pretendem relançar negociações diplomáticas.
O ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian, pediu à Rússia que “pressione” o mandatário sírio. Em entrevista ao Le Journal du Dimanche, Le Drian disse:
Devemos agora esperar que a Rússia entenda que, depois da resposta militar (…), devemos unir nossos esforços para promover processo político na Síria que permita saída para a crise. Hoje, o que bloqueia esse processo é o próprio Bashar al-Assad e a Rússia deve pressioná-lo.
Macron também adotou tom conciliador em entrevista na televisão neste domingo:
Não declaramos guerra ao regime de Bashar al-Assad.
Ainda assim, o presidente francês defendeu a “legitimidade” dos bombardeios e elogiou a operação no plano militar:
As capacidades (da Síria) de produção de armas químicas foram destruídas.


























