Militar acusada de torturar e matar aluno diz que ele não estava “preparado para ser bombeiro”

A tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur de Souza Dechamps, acusada de torturar e matar o aluno Rodrigo Patrício Lima Claro (21) em 2016, afirmou que a vítima tinha “descontrole emocional na água e não estava preparado para ser bombeiro”. A declaração foi dada durante uma audiência realizada na última quinta-feira (12) na Vara Criminal da Justiça Militar de Cuiabá.

Segundo a militar, ela participou de dois exercícios com Rodrigo. O primeiro, conhecido como “caldo”, é utilizado para fazer como que o aluno saiba como “agir quando uma vítima agarra durante o salvamento”. Durante este exercício, o aluno tenta nadar enquanto é segurando por um dos instrutores.

O segundo exercício aplicado no aluno foi o “nado resistido”: o aluno é preso por cordões na borda de uma piscina e tenta nadar o mais longe que conseguir. Segundo a tenente, durante o depoimento:

Ele sabia nadar, mas apresentava descontrole emocional com a água. O nado resistido aplicado ao aluno Claro era pra ver a resposta dele como evolução.

Tenente Izadora Ledur de Souza Dechamps durante depoimento (foto: Tiago Terciotty)

A instrutora também disse que jogar água no rosto e submersão fazem parte do treinamento. Segundo ela, o primeiro exercício de deslocamento na água no dia do treinamento na lagoa foi de ambientação. Os alunos participavam em dupla. O percurso, segundo ela, era de 250 metros em 24 minutos, totalizando 500 metros a nado.

O curso onde o aluno morreu era o segundo aplicado pela militar. Segundo ela, não aconteceu nada diferente nesse curso em relação ao anterior.

A diferença é a resposta do aluno.

Ainda segundo a tenente, os alunos que não atingiam o padrão mínimo eram testados na água com o medo resistido. Ela também afirmou ao juiz que Rodrigo não era “o pior aluno” e que “outros tinham mais dificuldade”.

Ainda assim, negou ter presenciado o jovem passando mal ou vomitando e disse que não viu ele cair no chão, como outros alunos disseram. Ela também negou que houvesse perseguição contra ele e nem era aplicada nenhum tipo de punição.

Antônio Claro e Jane Claro, os pais de Rodrigo (foto: João Vieira)

Entenda o caso

Rodrigo morreu no dia 15 de novembro de 2016, cinco dias depois de passar mal em uma aula prática na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, na qual a tenente Izadora atuava como instrutora. De acordo com a denúncia do Ministério Público Estadual, Rodrigo demonstrou dificuldades para desenvolver atividades como flutuação, nado livre e outros exercícios.

Ainda segundo o órgão, depoimentos durante a investigação apontam que ele foi submetido a intenso sofrimento físico e mental com uso de violência. A atitude, segundo o MPE, teria sido a forma utilizada pela tenente para punir o aluno pelo mal desempenho. Durante a realização das aulas, Rodrigo queixou-se de dor de cabeça. Após a travessia a nado na lagoa, ele informou ao instrutor que não conseguiria terminar a aula.

Em seguida, segundo os bombeiros, ele foi liberado, retornou ao batalhão e se apresentou à coordenação do curso para relatar o problema de saúde. O jovem foi encaminhado a uma unidade de saúde e sofreu convulsões.

Antes do treinamento, o jovem conversou com a mãe dele por um aplicativo de conversas e disse que estava com medo do que poderia acontecer.

Em mensagem enviada para a mãe, Rodrigo disse que estava com medo (foto: TVCA / Reprodução)

A tenente responde criminalmente pela morte do aluno e ficou monitorada por tornozeleira eletrônica por três meses. No entanto, em outubro de 2017, conseguiu na Justiça o direito de retirar o equipamento. A denúncia do MPE, diz que Ledur utilizou meios impróprios durante o treinamento com o aluno como “caldos” e afogamentos. Além disso, ela teria ameaçado desligar Rodrigo do curso.

A Justiça investiga se houve abusos por parte dos instrutores do curso de formação. Atualmente, ela desempenha funções administrativas e, desde a morte de Rodrigo, em novembro de 2016, Ledur apresentou atestados médicos de forma contínua.

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