Cerca de três horas depois que as tropas das Forças Armadas deixaram a Vila Kennedy, favela da zona oeste do Rio de Janeiro, um criminoso encapuzado rendeu cerca de 30 pessoas e levou o dinheiro da paróquia, além de joias e celulares dos fiéis. O crime aconteceu na noite da última quinta-feira (8), na Igreja Católica Santo Cura D’ars, na rua Etiópia. Uma moradora declarou:
“O menino armado rendeu todo o mundo, assaltou o padre, levou carteiras, dinheiro, tudo. Levaram a aliança do meu marido. A sensação é péssima. A gente já perdeu o direito de ir e vir. Estamos sendo acuados, nem na igreja podemos ir mais.”

Ainda assim, ela diz acreditar que a intervenção esteja funcionando:
“A não ser quando eles vão embora. A gente fica à deriva quando eles saem. Mas sabemos que não vai mudar da noite para o dia. Essas barricadas deixavam as ruas todas fechadas, não tinha como sair de carro. Era preciso dar voltas por cinco ou seis ruas para chegar em casa.”
A comunidade conta com uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) e vem passando por ações sucessivas, cujo objetivo é enfraquecer o crime organizado na região. No entanto, a permanência parcial dos militares, que deixam a comunidade ao final do dia, uma vez que não há previsão de ocupações prolongadas durante a intervenção, não resolveu a falta de segurança no bairro.
O setor de operações do Gabinete de Intervenção Federal (GIF) disse que não havia Forças Armadas na área, apenas a PM, e solicitou que as questões fossem repassadas à Secretaria de Segurança, que ainda não se manifestou. A Polícia Militar informou por meio de nota que:
“Segundo o comando da UPP Vila Kennedy, nenhuma equipe policial e nem a base da unidade foram procuradas para a comunicação ou registro do suposto incidente”
A paróquia Santa Cura D’ars é tão antiga quanto a comunidade e se instalou lá em 1964, ano em que a Vila Kennedy foi fundada pelo então arcebispo do Rio, Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara.
Uma mulher ligada à igreja comentou sobre o crime:
“A gente sabe que o boato deles [os criminosos] é o seguinte: vai ter repressão aos moradores quando o Exército for embora. Às 16h em ponto eles [militares] vão embora. E aí, como é que a gente fica? A gente tem vida durante a noite também. Nossas crianças voltam da escola. É complicado”.

Operações do Exército
Este é o sexto dia de operação na Vila Kennedy em duas semanas. Na quinta (8), os militares distribuíram mil rosas para as mulheres da comunidade pelo Dia Internacional da Mulher. No sábado (3), 1,4 mil militares removeram 16 barricadas construídas por traficantes para dificultar o acesso de veículos blindados das polícias e das tropas federais. Segundo moradores, assim que o Exército deixou a Vila Kennedy, eles foram obrigados pelo bandidos a reconstruir as barreiras.
Após um tiroteio entre PMs da UPP e criminosos no último domingo (4), Valdir Vieira da Silva (66), morreu baleado na cabeça na Vila Kennedy. Uma mulher também foi ferida na perna. No começo desta semana, a comunidade também foi alvo de duas operações da Polícia Militar (Batalhão de Choque e UPP).
As operações das Forças Armadas na favela começaram no dia 23 de fevereiro, após uma arma que pertencia ao sargento Bruno Cazuca ser localizada na região. O militar havia sido morto três dias antes por criminosos em Campo Grande, bairro da zona oeste do Rio.
A Vila Kennedy vem sendo tratada pela equipe do interventor como um modelo para as operações das forças de segurança no Rio. A favela foi a região que mais recebeu ações militares desde o início da intervenção, no dia 16 de fevereiro.




























