Alisson Mack era uma atriz muito promissora. Ela ficou conhecida no mundo inteiro depois de dar vida a jornalista Chloe Sullivan, na série Smallville. Mas a carreira, bem com a sua reputação, foi destruída no final do ano de 2017, quando o jornal The New York Times publicou uma matéria onde ela era apontada como uma das principais líderes de uma seita sexual secreta chamada NXIVM (pronuncia-se “nexium”).

A seita, que se baseava em uma pseudo-filosofia que prometia indicar o caminho para o sucesso, foi criada pelo controverso guru e palestrante de autoajuda Keith Raniere (57). E o tal guru atraía milhares de pessoas para seus cursos e workshops, em todos os lugares dos Estados Unidos, onde jurava que ensinaria como alcançar a felicidade plena.
Em março de 2018, Raniere foi preso em um luxuoso condomínio no Máximo e o grande império da NXIVM começou a ruir. Alisson foi apontada por várias mulheres que participaram da seita como sendo uma das líderes e as provas se tornaram cada vez mais conclusivas, chegando ao ponto da atriz ser presa, no dia 19 de abril em Nova York.
Alguns dias depois, Alisson foi liberada, após pagar a fiança estipulada em 5 milhões de dólares. Mas ela ainda é tida como suspeita de ser a principal recrutadora da seita, cujo objetivo era formar um subgrupo de escravas sexuais dentro do NXIVM, chamado DOS. Supostamente, a palavra é uma sigla que significa que representa um anacronismo do latim: dominus obsequious sororium (mestre das companheiras femininas obedientes).

Nas reuniões do DOS, as mulheres tinham suas virilhas marcadas a laser, com as iniciais de Raniere ou de Alisson. Sob o pretextos de fazer delas mulheres mais resistentes, Raniere e Alisson os submetiam aos piores tratamentos, que iam desde sexo até agressões e privação de comida.
Segundo Sarah Edmondson, uma ex-escrava sexual de Keith Raniere, eles “faziam parecer um treinamento para mulheres duronas”. Segundo ela, Vanguarda, como Raniere era chamado dentro do culto, e outros membros de alta patente acreditavam que o grupo poderia se tornar tão grande a ponto de manipular as eleições americanas.
Para fazer parte da irmandade, as possíveis recrutas precisam garantir sigilo, oferecendo algo que possa ser usado como moeda de troca. Geralmente, eles pediam materiais comprometedores, como fotos nuas. Com isso, elas são forçadas não só a manter segredo quanto às atividades do DOS, mas também compelidas a continuar lá.
Centro de treinamento
Na irmandade, as mulheres recebem lições sobre como superar as “fraquezas” comuns ao gênero, segundo o conceito de Raniere, como a incapacidade de manter promessas e uma natureza de ordem superemotiva. As escravas deveriam abraçar o papel de vítima que teriam nascido para desempenhar, por meio da submissão a um “mestre”. Cada mestre deve recrutar seis escravas, que, eventualmente, também podem vir a ter sua cota de servidoras.
Cada nova integrante é enviada a um “centro de treinamento” — geralmente, a casa de um dos membros de alta patente, como Allison Mack. Nua e vendada, a recruta deve proferir um “voto” vitalício de lealdade a Raniere, prometendo obedecê-lo e protegê-lo acima de todas as coisas. Depois, é levada a um aposento e deitada sobre uma maca, onde receberá o que chamam de “pequena tatuagem”, parte do “trote” de iniciação na seita.
O que acontece a seguir assustou Sarah Edmondson, uma das egressas do grupo. Na entrevista ao New York Times, ela contou que três mulheres seguraram seus ombros e pernas, enquanto uma quarta marcava, a laser, um K e um R (as iniciais de Keith Raniere) na pele abaixo do quadril, perto da virilha. “Eu suei o tempo todo, dissociei do meu corpo”, contou ela.

Fome e sexo
O ritual de iniciação, digno de filme de terror, era o só o começo das experiências “construtoras de caráter” a que eram submetidas as escravas do DOS – NXIVM. Além de manter relações sexuais com Keith Raniere, era preciso ter o corpo que ele desejava. Por isso, as servas eram submetidas a dietas de apenas 800 calorias por dia — o normal são 2.000 calorias diárias por pessoa — e a uma intensa rotina de exercícios, com corridas de até 60 km por semana. Seus deslizes e falhas eram punidos, muitas vezes, com jejum e castigos físicos. As mulheres também precisavam cumprir as metas de cooptar recrutas para o grupo.
As escravas não precisavam viver junto a Raniere ou às suas mestras, mas estar sempre disponíveis para eles. Um atraso superior a 1 minuto para responder uma mensagem de texto, por exemplo, era passível de punição. Alguns membros mais radicais, no entanto, abriram mão de suas vidas para estar exclusivamente ao dispor da seita do sexo.
Quem paga?
Bancar rituais sádicos, um time de “funcionários” e um confortável nível de vida custa alto. A pergunta é como Keith Raniere conseguia esse dinheiro. Membros de alto escalão da política do México foram apontados como alguns dos mantenedores do NXIVM, segundo o jornal chicano El Universal.
Em 2010, acredita-se, o patriarca da família Bronfman (dona da marca de uísque Seagram) tentou destituir as filhas, Clare e Sara, ao descobrir que elas doavam dinheiro para a instituição.

























