Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), há mais de 10 milhões de deficientes auditivos no Brasil. Destes, cerca 2,7 milhões possuem surdez profunda e não escutam absolutamente nada. E pelo menos metade destas pessoas não possuem nenhuma forma de comunicação com o mundo.
Talvez você não saiba, mas a Libras, ou Língua Brasileira de Sinais, é a segunda língua oficial do país desde 2002. Ainda assim, possui apenas 5 milhões de falantes. O motivo dessa dispariedade é complexo, indo desde a falta de professores e intérpretes em sala de aula até o preconceito com as pessoas com deficiência.
E mesmo sendo uma língua oficial, o ensino de Libras não é obrigatório nas salas de aula, mesmo sendo uma importante ferramenta de inclusão social para deficientes auditivos. O não conhecimento de grande parte da população brasileira sobre a língua de modalidade gestual-visual ainda é uma problemática a ser resolvida.
Mas há iniciativas para mudar este fato. Em entrevista ao portal atualizaMT a pedagoga PcD (pessoas com deficiência) do Instituto da Criança, Débora Kamila Moro e sua intérprete, a pedagoga Daniely Gimenes Volpin relatam a importância do ensino de Libras nas escolas e como isso reflete no mercado de trabalho.
Segundo Débora Moro, dos diversos obstáculos e inconveniências encontradas no dia a dia de uma pessoa com deficiência auditiva, grande parte delas se dá a dificuldade de comunicação com uma pessoa ouvinte sem um intérprete:
Seria muito importante a inclusão de Libras como uma matéria na escola para que todos tivessem a oportunidade de aprender, para que todos os surdos possam conviver de forma natural, ter contato com todos os colegas, porque todos os deficientes têm essa necessidade de comunicação e para eles é muito difícil ficar dependendo de um intérprete.

A discussão sobre a importância de Libras no mercado de trabalho está diretamente ligada à educação. Afinal, ainda que algumas escolas do território brasileiro estejam se adequando aos poucos para que a educação seja efetivamente inclusiva, esta preocupação com a inclusão de Libras no dia a dia de pessoas ouvintes ainda é baixa.
Além da adequação que começa nas escolas, o segundo fator é a adequação dentro das empresas, para que os funcionários surdos que integram a empresa tenham suporte adequado e direcionamento correto dentro das empresas.
Depois que a Lei de Cotas para deficientes entrou em vigor em 1991, diversas empresas tiveram de incluir funcionários PcD no quadro de colaboradores, porém, o surdo ao se inserir no mercado de trabalho se vê de frente a obstáculos que poderiam ser facilmente evitados se as empresas estivessem preparadas para receber um funcionário com deficiência auditiva, porém o processo para adequação ainda é lento é o que conta a professora.
É muito difícil conseguir uma vaga de trabalho e são muitos os surdos que precisam trabalhar, eu conheço surdos que mudaram de cidade por não conseguir vaga de emprego em Sinop.
Além da dificuldade de encontrar empregos, outro fator, é a maneira como um surdo é visto dentro de uma empresa. É muito comum situações em que deficientes auditivos são contratados apenas para cargos mais simples como zeladores e repositores por serem considerados incapazes de exercer outras funções mais complexas.
E até mesmo situações em que o profissional surdo é graduado por uma universidade mas acaba não conseguindo a vaga de emprego porque a empresa não está preparada para receber um funcionário PcD, o que acaba desmotivando muitos surdos na hora de procurar emprego, é o que explica Débora:
É o motivo porque muitos surdos acabam aceitando a aposentadoria porque não têm segurança dentro das empresas, e assim, as vagas existem mas acabam ficando sempre no mesmo patamar.
A inclusão social é uma problemática que vem caminhando para melhora há muitos anos mas muitos não têm consciência da importância que a inclusão social possui no desenvolvimento de uma pessoa, apesar de lento a conscientização começa através de programas, projetos, e através das mídias de comunicação.
Instituto da Criança
O Instituto da Criança é um solução social que busca promover o desenvolvimento humano, auxiliando crianças e adolescentes com deficiência visual, sonora, com autismo entre outros, através de aulas, jogos, exercícios e projetos, é o que explicam as pedagogas:
Aqui no núcleo de libras o objetivo é o incentivo às crianças para que eles possam aprender libras, e no período posto eles vão para sala regular para aprender os conteúdos do currículo comum, o português, a matemática, aqui os alunos estudam junto com um professor surdo, também intérprete e também com um professor bilíngue.
Nos anos de 2020 e 2021, durante o período da pandemia do novo coronavírus, o Instituto precisou de adequar quanto as aulas e aderir ao método de ensino a distância (EaD), onde fizeram uso de atividades impressas e trabalharam com auxílio dos pais e responsáveis dos dos alunos do Instituto da Criança, para que não houvesse perda do ritmo escolar.
Atualmente as profissionais Débora e Daniely além das aulas aos alunos do Instituto lecionam também cursos de Libras para jovens e adultos no Instituto da Criança, visando uma maior inclusão e melhor adaptação para seus alunos e também para os pais e responsáveis desses alunos que procuram um melhor convívio entre si, as professoras são atualmente as únicas fontes oficiais para ensino de Libras em Sinop.