Você conhece Tom Jobim, né? Ele foi um dos maiores músicos que o Brasil já viu, e com toda certeza, um dos maiores expoentes da música brasileira no resto do mundo. Junto com Vinicius de Moraes, escreveu algumas das canções mais icônicas de todos os tempos, como Garota de Ipanema, Pela Luz Dos Olhos Teus, Eu Sei Que Vou Te Amar, Águas de Março e muitas outras.
Tom Jobim era músico, e não poeta. Logo ele compunha as melodias e não escrevia as letras. É justamente por isso que essas composições que eu citei são mais atribuídas ao próprio Vinicius de Moraes do que a ele. Mas o que seria da poesia sem o ritmo, não é mesmo? E Tom Jobim era um gênio quando o assunto era melodia.
Tanto que uma das minhas músicas favoritas dele é a prova cabal de que um grande artista consegue se destacar até quando faz as coisas do jeito mais simples possível.
A canção se chama Samba de Uma Nota Só e é basicamente isso. Uma música com a harmonia composta em volta de uma única nota: um D maior, na gravação original. E a própria letra da música, composta depois, fala sobre isso. Sobre a música ser feita com uma única nota.
A letra da canção foi composta por Newton Mendonça, outro grande músico que faleceu nos anos 60. E quando paramos para analisar as frases, vemos a genialidade disfarçada de piada e ironia. A primeira estrofe diz:
Eis aqui este sambinha, feito numa nota só. Outras notas vão entrar, mas a base é uma só.
E a base da melodia permanece sendo apenas o D mesmo.
Em outro trecho da música, o único em que a música sai do D e utiliza uma escala mais completa, a letra diz:
Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada, ou quase nada. Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada, não deu em nada.
Então ele volta par o D e a letra diz:
E voltei pra minha nota como eu volto pra você. Vou contar com uma nota como eu gosto de você. E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó. Fica sempre sem nenhuma, fica numa nota só.
Pra mim, essa música, que tem mais de um século de vida, descreve muito bem boa parte das nossas relações pessoais e profissionais com metáforas simples e até inocentes. Quantas vezes achamos que precisamos de muito para alcançar a felicidade? No fim das contas, acabamos descobrindo que a beleza da vida está na simplicidade, naquelas coisas que já temos e que não nos damos conta.
O Tom já sabia disso em 1960. Eu tô começando a entender isso agora, em 2018. E fazendo o possível para ouvir mais, aprender mais e falar menos besteiras. Que tal você começar a fazer o mesmo?
 
		

